Hora de respiro

Acredito que boas reflexões, fomentadas por instigantes intelectuais, devam tornar-se pop, bem pop. Estar na boca de todos. De nós o povo.
Antes da filósofa brasileira Viviane Mosé ser bem pop, ela já era uma intelectual de respeito, por isso também continua. A primeira vez que a ouvi foi na Bienal do Livro do Rio de Janeiro em 2011, que ainda acontecia no RioCentro.
Viviane disse em recente palestra que devemos retomar nossa capacidade de delirar, de viajar na maionese, porque não é só através da lógica que criaremos um mundo melhor. Temos de dar, voltar, a dar valor à vida. A contradição. Esse tipo de depoimento me pega, me capta, me cativa, porque é disso que eu também falo, é de um ócio, de uma divagação, de um nada, que eu quero me submeter ao que está aberto a mim, a nós, como experiência, que eu quero. É ler um Tchekhov, é ser um inútil, é querer fazer a revolução sentado no meu sofá, representar o Oblomov, é ser ao contrário, aprender pelo inverso, contemplar minha caligrafia de canhoto em era digital, tirar selfies e postar no instagram, ficar com tendinite nas mãos por tocar no piano improvizações dos meus sentimentos, e assim quero encontrar o furo, não vou driblar o tempo, mas qualificá-lo, mas sem perder minha capacidade do bem julgar, do apreciar, do querer se integrar, e fazer a ponte para que sejam integrados. É querendo me espelhar em Mário de Andrade e Oswald de Andrade, em mulheres,
Em Hilda Hilst, no bruxo do Cosme Velho, em Renatos, Agenores, e Djavans, Orlando Silva. É na música, no cinema, no teatro, que buscarei meu refúgio, ou ao contrário de tudo, dentro de mim e na imersão aos conhecimentos da alma humana. É no trabalho, na intencionalidade de meus atos.
Não faço uma superinterpretação da realidade e sim uma interpretação delirante do real sufocante.
Onde eu acredito que devemos quebrar os encantos e deixar a mostra a transparência do mal. Ao invés do silêncio.
Mas falemos menos e joguemos mais.
Só pra ciencia de alguns, raspas, restos, sobras, me interessam e muito, porque não é só de pequenas cortes que se faz uma nação plural, democrática, sem probreza, sem fome, e com oportunidades.
Porque é a vida da margem que me interessa, é onde a vida acontece, e ela não pode ser reflexo de alhures. Ela não se permite mais ser o eco do oco. Ela age e atua e desenvolve suas necessidades.
Parece clichê do clichê, mas é o que nos deixaram, temos uma dívida com o passado e com nossos mortos. Com os que aqui habitam e com as gerações que estão por vir.
Vocês que odeiam os mortos, precisamos dar valor as nossas memórias vivas, criar e se colocar diante da experiência e causar tremores.
Amo!


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