Tragédia em Escola brasileira/ Estudantes e funcionários assassinados

Estou consternado com o que ocorreu na Escola Estadual Professor Raul Brasil em Suzano (SP). Não querendo tergiversar, muito menos sensacionalizar essa barbárie, preciso falar sobre o Estado de São Paulo. Eu, um paulista paulistano, radicado na Bahia digo: é hora dos cidadãos paulistas mostrarem ao Brasil o quanto são tolerantes, diversos e cosmopolitas.
Ao escrever esse texto, fico pensando que pode ser que eu tenha pouca consciência sobre os fatos que compõe o Brasil atual, uma cabeça pequena e fechada para tamanha tragédia, mas morando há 5 anos em Salvador, conhecendo 18 estados brasileiros e ter morado em outros 2 estados, uma noção mínima do que se passa em nosso território brasileiro eu posso ter. Informando-me através de diversos meios e conhecimento empírico.
Não está sendo fácil o bombardeio de notícias advindas do Estado de São Paulo, essas reportadas diariamente pelos veículos de comunicação. A cada dia um desastre, absurdos, práticas amorais, que fragilizam a imagem do estado, compromete toda uma coletividade, uma cultura de muitas raças... não que em outros estados não exista isso, mas existe um senso maior de historicidade, coletividade e afetos. Cada estado paga ‘seu preço’ por sua história e trajetória, principalmente política; nesse último quesito tratando-se de São Paulo, apesar de ser a locomotiva econômica e cultural do Brasil, é também conservador e rígido com suas crias e agregados, extremamente violento e segregador. A máquina, o estado, o poder da elite (a paulistana, a mais fechada do país), a busca pelo lucro desenfreado das empresas, uma junção de fatos que querem o outro, o diferente, o estranho; longe, empurrando-os cada vez mais para as margens. Ainda bem que hoje as margens se autorrepresentam e sabem o que querem…
Não podemos deixar o ódio se alastrar pelo Brasil, de lá pra cá ou daqui pra lá. Uma vez que São Paulo sempre foi plural e multiétnico, necessita elucidar sua própria história, um estado que sempre acolheu pessoas de todo o Brasil e do mundo, com trabalho e dignidade. Eu mesmo sou filho de uma alagoana de Anadia com um paranaense de Londrina, morto num acidente de carro na zona leste de São Paulo em 2015, um casal que se encontrou e conheceu na capital paulista nos anos 70, filhos de pais que viram a oportunidade de viver do trabalho e de uma forma digna com direitos e melhorias concretas num mundo cada vez mais individualizado e conectado. Modo operante esse que é mundial e um país de capitalismo tardio, não está imune aos ditames da atualidade.
Meus pais sempre prezaram por minha educação, eu fui estudante de escola pública estadual paulista e como os estudantes assassinados hoje, eu também frequentava as aulas de espanhol e merendava no pátio do colégio. Bullying e apontamentos sempre aconteceram comigo, por eu ser diferente, bicha, sensível e muito reservado, hoje autodeclarado pardo e bissexual, mas a vocação para os estudos e em semelhança de meus pais, ser um trabalhador, digno e através de meus esforços lutar em conjunto pela erradicação da desigualdade foi e continua sendo um de meus focos. Foco esse que sempre manteve-me em caminho das artes, da comunicação e da gestão pública.
Ao #GovernodoBrasil, ao #GovernodoEstadodeSãoPaulo, a #PrefeituradeSãoPaulo, a #PrefeituradeSuzano, #GrandeSãoPaulo, peço: É mais necessário do que nunca criar condições, através de políticas públicas para uma educação mais humanitária e transdisciplinar, que o acesso a este ensino pelos jovens paulistas seja acompanhado por criações e popularização de cursos em universidades públicas, ampliando o número de vagas ofertadas em ensino superior e técnico no âmbito do ensino médio, pois assim amplia-se a perspectiva de vida desses jovens. A inclusão desses jovens num projeto que lhes faça sentido na educação e na vida profissional, o que associa-se com melhorias na qualidade e condições de suas vidas, em todos os âmbitos.
Aos paulistas, precisamos ter consciência, sem prepotência de nossos valores simbólicos, nosso senso de coletividade e de nossa cultura, tão nossa e tão brasileira e ela é vasta, ela é imensa, ela é plural, é diversificada, é poderosa e bem vista e quista por todos a quem se sintam acolhidos e respeitados em suas diferenças.

Aos familiares dos estudantes e funcionários da Escola Raul Brasil meus pêsames.

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