Não sou eu, não é para você, mas pode ser

Escrevo no presente ano que se fecha
Escrevo no futuro ano que virá
Olho pra trás
Ou encerro um ciclo e deixo ele brotar?
Ando mais feliz do que nunca
Despistando os erros e agruras
que tentam me lançar
me cooptar, mas não vai rolar
Escrevo como que num desabafo
para você que me lê em silêncio
como que nunca tivesse aqui entrado
Que me observa, aguardando o momento
certo para abocanhar o prato cheio
Mas eu te digo que fora da sua imensa bolha
também existe competência
não adianta medir forças
não adianta chamar atenção
agora
depois de ter estabilizado a sua
narrativa sobre mim
Pessoas são pessoas, lembre-se
não demores onde não puderes amar
é por isso talvez que eu lhe vire as costas
agora
eu não tenho preço
apenas o peso dos meus amores
tudo o que fiz foi amar
e tentar me estabilizar
mas os gaviões voam soltos
é por isso que o ator deve ser expulso
da república
e o performer cooptado para a luta política
eles reivindicam
e nós atores nos transformamos
exatamente naquele em que não somos
ou melhor do que você quer nos estabilizar a ser
seres indóceis, alguns limão já outros laranja
doces, ariscos, mas com muita garra, graipefruit
não de gavião, mas garras rasantes presas à terra
a espera do Divino, que habita o vazio, causado
por sua louca insistência de enquadrar nós atores
em sua sufocante realidade. Maldita. Diabólica.
Onde nós apenas queremos jogar e ser felizes.
Acreditar no simbólico.
A sua dosagem de conhecimento, a sua economia de saberes
infelizmente nunca chegará ao edificante abstrato amor
e desejo intangível de nossos pensamentos.
Deixe estar. Deixe viver. Não foda com isso.
Você não perde por esperar o que lhe aguarda.
E não há preço que comprará seu silêncio reflexivo.
De um dia ter podido ser feliz, de tantos outros modos.
Voltando a mim, sem você, eu penso num presente
em perspectiva de um futuro.
Já tentei me despistar das narrativas de um futuro melhor,
já tentei refletir acerca da prisão do presente, sem perspectiva
Já adentrei que os três planos vivem aqui.
Com ganhos e perdas, eu serei mais feliz, como ando sendo.