Hari Heri Her Barth Bert Berto Heriberto "com todos os dentes da mão, devorem-me"

Se com a cidade onde nasci em 1988, São Paulo, minha relação é permeada de sensações entre amor e ódio, por N motivos que me fazem querer estar e partir de suas ruas frias, arranha-céus cinzas, e locais que me fazem recordar de minha adolescência e primeira fase adulta, que com as mudanças cada vez mais rápidas quase não mais existem substancialmente, essa mesma sensação estende-se para Osasco, cidade onde cresci e sempre volto quando preciso de afeto. São Paulo a locomotiva econômica do país, com milhares e milhares de trabalhadores do todo o Brasil, quiça de todo o mundo. E Osasco a segunda maior economia do estado paulista, a nona do país, conhecida como cidade trabalho e onde eu tive minha carteira assinada pela primeira vez aos 16 anos de idade. É desses locais que eu parto para minha jornada, em busca de sentido para minha vida e ter o que não posso encontrar aqui, devido concentrações e exigências que talvez eu nunca faça parte, e o que eu encontrei lá fora foram altos e baixos, muito próximo do que sempre tive aqui. Angústias da vida, como em qualquer parte do mundo.
A relação que tive com Salvador na Bahia, onde vivi os últimos 5 anos de minha vida até aqui, cidade berço do Brasil, potência econômica do nordeste, potência cultural e política, de resistência, foi de Sonho e Pesadelo, com amor, com muitos amores e com muitos pesadelos, experiências inimagináveis e medos nunca dantes sentidos. Também foi nela que finalmente entro em minha maturidade. Foi nessa cidade onde pude continuar os sonhos que São Paulo me fez sonhar, continuar com a força que Osasco me fez conquistar, foi nessa cidade também onde agreguei conhecimento e re-aprendi a utilizar a régua e o compasso, instrumentos tão caros na liberdade das cidades que me conceberam. E foi lá onde reaprendi a sonhar e a voltar...
A cultura nos faz ser em formação, uma obra de vida formante, onde desejos e quereres vão atualizando-se de acordo com as relações e os trânsitos que fazemos entre as instituições e instâncias sócio, culturais, econômicas, políticas e geográficas que permeamos. Em meio a imensa crise institucional e representacional que vive nosso país, uma coisa São Paulo e Salvador me ensinaram, mas não só elas, porque em minha trajetória também tem Brasília, Rio de Janeiro e Buenos Aires, e mais de 30 cidades do Brasil, dentre elas capitais, e ao estar nestes lugares, algo me soava: persiga seus sonhos, viva sua realidade individual e coletiva, preserve-se, aprenda e apreenda, posiciona-se com cautela e não sature sua imagem. Em era de saturação do olhar, onde um desejo frenético pelo novo, pelas cores, pelos desejos estéticos multiplicam-se e os valores atualizam-se por um gosto que ainda se faz presente entre os detentores do fazer e os que fazem de sua forma algo visto como duvidoso, pois não possuem acesso e o devido compartilhamento do sensível... 
Perguntam-me se Heriberto Carlos da Silva é um disfarce, e eu respondo que não, Heriberto é uma redescoberta mais próxima mais verdadeira e que cada vez mais aproxima-se de mim mesmo, Herbert. Que só irá se concretizar no fim de minha vida. Herbert C, Herbert Didone, Herbert Silva, Herbert Silva Leão, foram algumas fases de minha vida, onde vivi e construí minha narrativa profissional e ficcional e pessoal e amorosa, num país onde pobre nasce com as portas fechadas, mas a formação familiar e educacional e políticas públicas asseguram os direitos cidadãos de nossa constituição; as instituições abriram os caminhos, meus nomes me deram força e eu sou a prova de que a cada rastro deixado em cada um deles traz os lugares que ocupei, pessoas que eu conheci e que fizeram e fazem parte de minha trajetória, de minha vida; tudo que vivi sempre foi permeado com muito amor, com muito afeto, com muito carisma, com muita simpatia, com muita leitura e estudo, com muitos objetivos e sonhos, com muita insegurança e medo, formaram-me um ser formante melhor e em processo. Eu no presente sou prova disso. 
Desejos foram consumados, sonhos foram concretizados e destruídos, e eu só sei que vivi, que vivo e que ainda tenho muito a viver, porque de nada ainda sei. Essa minha singela trajetória, é nada menos que minha, é meu máximo, é meu tudo, e as experiências e histórias que tenho a compartilhar são muitas. Quero continuar nesta busca por interação, por afetos, afecções, por sorrisos verdadeiros e sonhar sonhos coletivos, e olhar para os olhos de quem é de verdade, como eu, em toda a contradição humana, e ainda encontram paz, encontram potência de ação e agir. É por esses encontros que, como uma configuração gestáltica, eu faço em ciclos e ciclos o fechamento de aberturas que me foram muito caras. 

"Agarrem-me como se agarra uvas, com todos os dentes da mão, devorem-me" 
                                   

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