O poder da Arte como afeto e da responsabilidade social nas obras cinematográficas de Daniela Broitman

O afeto é o resultado que reverbera das afecções que movimentam nosso corpo, perante o mundo, perante o outro corpo. As afecções são pulsões que conduzem-nos a outros estados de alma, de vida; o corpo afeta e ao mesmo tempo é também afetado pelo seu extrínseco, ambos dentro e fora proporcionam o sentir, o pensar, o existir.

Eis que chega ao cinema o filme “Dorival Caymmi - um homem de afetos”, um documentário dirigido por Daniela Broitman.

Conheci o trabalho da cineasta, através de sua irmã, Mari, fomos colegas no curso disciplinar do Teatro Escola Macunaíma em 2006, onde participamos juntos de montagens de peças teatrais escritas por Dias Gomes, Bernard Shaw, Flaminio Scala e George Feydeau, dentre outros experimentos cênicos. A direção das montagens ficaram a cargo de nossos professores-diretores, a saudosa Laura Kiehl Lucci, Alex Capelossa, Mônica Grando e Einat Falbel.

Quando Mari confessou-me que sua irmã era cineasta, fiquei atento as produções de Daniela, ficara sabendo na época, que ela estava em pesquisa para produção de um novo filme.

Os filmes:

“Meu Brasil”, um documentário que aborda a história de vida de três brasileiros, líderes comunitários, que apesar das dificuldades e adversidades, buscam por mudanças sociais, individuais e coletivas. Um despertar para ação e politização. O doc retrata um Brasil nú e crú, onde a busca por uma vida digna apresenta a imensa desigualdade existente no país. As personagens rumo ao Fórum Social Mundial de 2005.

Em 2011, Daniela lança “Marcelo Yuka - no caminho das setas”, conta a história do ex- baterista e um dos fundadores da banda O Rappa, que teve sua vida alterada após levar 9 tiros num assalto no Rio de Janeiro, que deixara-o paraplégico. Yuka faleceu no começo deste ano de 2019, após sofrer um AVC.

Em 2018, eu fui monitor e co-diretor de uma atividade política tecno decolonial no Fórum Social Mundial 2018, e tive a oportunidade de conhecer uma outra obra de Daniela Broitman que datava 2003, “A voz da ponta - a favela vai ao Fórum Social Mundial”,  que daria estofo e serviria como base mais tarde para o filme “Meu Brasil”.

Chega nesse ano de 2019 aos cinemas o mais recente projeto da cineasta, “Dorival Caymmi - um homem de afetos”, que estreou ontem no Instituto Moreira Salles - IMS SP, destaque dentro do festival internacional de filmes “É tudo verdade (It’s all true)”, criado por Amir Labaki há 20 anos.

Sábado, o documentário terá sua estreia no IMS RJ.

“Uma das maiores figuras da música brasileira, Dorival Caymmi, tem suas memórias e confidências relembradas através de uma inédita entrevista realizada em 1998. Combinando entrevistas com personalidades que o conheceram e este novo relato de Caymmi, o documentário faz um panorama por importantes momentos na história do cantor”

É evidente o compromisso de Broitman para com a arte e o Brasil. Suas obras do gênero documentário, utiliza-se do método entrevista para dar vida aos personagens da vida real, num diálogo franco e possível, sobre suas vidas, experiências e formação da consciência cidadã e política, fonte inesgotável para a emancipação.

Vem daí seu poder de afetos e de responsabilidade social.




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