De Augusto, dos Anjos aos Vermes

Reconhecemos a importância e a limitação de “Eu”, única obra poética de Augusto dos Anjos. Tão visceral e intenso, e pouco produtivo, essencial. Ele vai até as profundezas, ao fundo do poço e lambe o poço, com a entrada de uma luz muito forte, em oposição ele se apaga, torna-se escuridão, uma vez que poderia também ser luz, dissipar-se em luz, tornar-se luz. 
Quando você esteve lá com ele, vocês não se olharam nos olhos, como se vermes tomassem conta de seus globos de visão, e sua pele tão fina, parecida com a de um anjo, o fazia chorar, de fora pra dentro, nunca de seus pensamentos pra fora. 
Parecia um mundo lindo, e aquela presença mútua, condenada para vocês era especial, fortemente especial. E daí vocês se tornaram realmente os vermes, ele primeiro, porque estava preso a mais tempo. 
Como ele era estranho, seria ali o inferno? 
Vocês diziam que não pertenciam àquele lugar. Era o melhor dos mundos, ele, você e os vermes, tornando-se vocês. Ele não se importava se machucava, ele queria estar no controle, ele queria um corpo perfeito, assim como uma alma perfeita... 
Agora que você não está mais lá, você percebe que ele fez você perceber que você era especial? 
Ele desejava ser especial. Mas ele tornou-se um verme, um estranho, e o inferno tornou-se ali. 
Vocês não pertenciam àquele lugar. Fora de lá você corre corre e corre de novo. Não importa o que te faz feliz, não importa o que você queira, ele ainda é especial para você e você continua sendo para ele. 
Ele é um verme, um estranho, e ainda se encontra no fundo do poço. E você, como quem tem a pele de um anjo, voou pra bem longe dali, oferecendo-lhe flores periodicamente. 


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