Lorca no Brasil #CriminalizaSTF / Yerma e a luta diária [em construção]

ESTÉTICA DO REAL NA PRÁXIS TEATRAL
LAMPEJOS DE REALIDADE NO PROCESSO CRIATIVO DE YERMA

Ao escolher a peça teatral "Yerma" escrita pelo dramaturgo espanhol Federico Garcia Lorca em 1934 para encenar, a diretora formanda do curso de Direção Teatral da UFBa, Yasmin Müller, nos incita a refletir e trazer à tona vários assuntos que sobrepõem-se à obra do artista, tais como a homofobia, a violência doméstica contra mulheres, conservadorismo religioso que influem ativamente em nosso Estado Soberano Democrático de Direito e até mesmo o vilipêndio do sistema para com as condições socais e direitos fundamentais da população brasileira, tais como acessos à moradia, sistema de saúde, educação, cultura e arte.
Esse é um olhar treinado para o gosto de real pelo qual passa nossa geração. Toda arte é política, inclusive as que não trazem consigo essa definição, as quais são enquadradas como 'puro' entretenimento ou comercial. Estamos vivendo a era da democratização do conhecimento, através da revolução digital, e também da politização do cidadão, numa conscientização ampla dos trâmites e formas de gestão da máquina pública. Ter essa consciência cidadã é de extrema importância, mas viver em estado de bem estar, através das ações de nossos representantes, reivindicando nossos interesses individuais e coletivos, é necessário, sem a instituição política tomar conta de tudo, da autonomia das outras instituições democráticas, até porque temos dentre nossas atribuições de direitos e deveres, o correr atrás de nossos objetivos e viver nossa liberdade, respeitando as instituições, cada uma muito bem definida e ciente da transversalidade e importância na formação de uma sociedade sadia, através de ações formativas e coercitivas pelas quais passam as subjetividades que as compõem.
As artes podem ser encaradas como uma dessas instituições formativas, de afloramento de um senso crítico e emancipatório do cidadão, hoje seu contrato social na pós-modernidade é não ter contrato social com a sociedade, ou ainda questioná-lo expondo os interesses que são reivindicados pelo povo soberano. Vivemos na era da diferença ou da diversidade em contraponto com um sujeito iluminista individual, formado por um centro único e hegemônico, ou o sujeito moderno sociológico transpassado por todas essas instituições, que mescla o interno com as influências externas, mas assim como o conceito de pós-dramático nas artes cênicas, nós entendemos o hegemônico, para a partir dele pensarmos e refletirmos sobre a formação do caráter humano social a partir de outras proposições. Muitas questões se abrem, ética, moral, estética, e a proposta desse compartilhamento são esses lampejos, de uma pós-modernidade que nos permite uma visão transdisciplinar para proposições de teoria e práticas futuras.
A importância da obra de Federico Garcia Lorca para a Espanha e para todo território por onde o artista passou é vital. Homossexual assumido, o poeta enfrentou resistências em sua vida que lhe custou a própria vida, injustamente ceifada precocemente. O ar estava pesado para Lorca, como hoje está o nosso. E seguiremos na luta, porque se fere alguma existência, seremos  resistência. A obra do poeta tão bem retrata os porquês que sempre ressurgem. Para adentra-la é necessário sensibilidade e leveza. É na delicadeza que conseguimos unir pontos equidistantes da história da humanidade e dialogar com nosso presente, mesmo após tantas mudanças. Não é fácil, é complexo e é preciso lavrar mais fundo, juntando e compondo as narrativas em busca de territórios mais sólidos, uma vez que tudo se dissolveu no ar e nós ainda tentamos dominá-lo, já sabemos voar e cantar a plenos pulmões e não é só. 
A física quântica e a pós-modernidade nos apresentam como diluir em pôs-dramático nossas referências clássicas das narrativas literárias, dramáticas...e precisamos imaginar e criar e fazer das arestas vértices de apoio que dão forma, por exemplo a um poliedro, um pentágono, que abaixo de seus lados sob sua área, que na mente escapa, comporta um sistema que pode compor um processo colaborativo em Artes Cênicas, com a junção de artistas formandos, amadores, experientes, profissionais, mestres, mestrandos, doutorandos e pós. Onde, como numa democracia são as vozes que a compõe, que geram representantes que irão dar estabilidade ao sistema, temos algo semelhante no teatro e que podemos transmutar essa experiência através da estética da práxis teatral. 
Isso é Teatro ou Realidade? É político ou entretenimento? É belo ou feio? É acerto e erro. Hoje nenhum se faz sem o outro. A condição social nos ensina a operar de acordo com as necesssidades. Então, que encontremos nossos meios e enfrentemos a celeuma que devemos encampar para que nossas reivindicações tornem-se agenda. 
Aqui no Brasil, uma polarização de ideologias reverberam de maneira sublime, um tsunami que aparece diante de nós e não sabemos lidar, como quando algo desaba pra levar inocentes. É um desafio de natureza. Lorca tão bem buscava entender a sua. E só sua família, amigos e sua obra para nos dizer. Falar pelo outro é sempre escolha difícil, mas assegurar que tenham voz e direitos e deveres é fundamental e constitucional. Se nós buscamos o holos, o todo, trazendo pro corpo mais alma e pra alma mais corpo, é essa a questão central da obra de Lorca e assim compôs seus poemas, canções e dramaturgia, trazendo de si perante um mundo de formas por vezes simbolistas. Disforme. Sua obra foi disseminada em territórios nunca dantes pisado por ele, nestes territórios tão distantes e tão parecidos com sua terra Natal, conectados por um grande contrato, como os de casamento, que rendem o suficiente para aprimorar e modernizar a roda da vida de todos os que compõe. Amor e vida. Lorca foi fuzilado pelo governo ditatorial franquista como nos sinaliza a história, contada por ousados em tempos bicudos, travados, parecidos com os de hoje em que já sabemos não está nada tudo tão bem.
Nosso Supremo Tribunal Federal iniciou ha dias os trabalhos para uma possível criminalização da LGBTfobia, após uma apuração de omissão do Congresso Nacional para com a pauta dessa agenda. Esse é o tempo das minorias serem mais que assimiladas no sistema, é tempo de revermos nossos erros, contribuições e termos direito de voz, de ir e vir, rumo ao desenvolvimento da Nação. 
E assim a obra de Federico Garcia Lorca nos mostra a importância das artes em diálogos sociais, ele escreve para o teatro com uma dramaturgia em mão dupla, sinalizando para poesia e para a encenação. Dar corpo e alma ao texto de Lorca esses atores fazem com respeito. Trazer a luta no campo corporal, político e contemporâneo a diretora da montagem, Yasmin Muller, faz com argumentação. Cabe a nós reivindicar mudanças. Saber o que é nosso por direito, ir atrás de nossos objetivos e criar um melhor futuro possível. 
A mim concerne o apoio, a gratidão, e a incerteza em busca da beleza na criação, e o desenho do sentimento é mais sutil. A psicologização do sujeito moderno exposto numa tragédia que denuncia o patriarcado, nesta encenação reverbera nas amarras dos movimento curtos e polidos e esparrama no corpo flamenco. Yerma. Um aprendizado sem fim neste meu tempo-espaço. 

Yerma. É preciso lavrar mais fundo para adentrar ao universo de Garcia Lorca. Yerma. O mundo pulsa ao seu redor. E você, Yerma. É preciso de uma visão de encenadora para dar vida ao texto poético e cênico de Garcia Lorca, nem que seja mudando as estações do ano para que floresça num outro espaço-tempo a igualdade de gênero. Utopia? Não, Estado Soberano Democrático de Direito. Yerma, É preciso semear. Yerma. Ter consciência da luta e quebrar as amarras. E o mundo pulsa rumo à liberdade. Yerma. Da concepção à colaboração. Da seleção à organização. Yasmin, mulher feminista, ciente da luta, planta aqui sua semente. Em Yerma. Ela semeia mais e colhe os bons frutos de sua trajetória, com um elenco afiado e uma equipe disposta a entrar em universos paralelos, juntos num processo colaborativo. 

Sigamos à contemplação do florescer deste ato de passagem e formação. De Yasmin sobre Yerma. 


                               Reconceitualização do sujeito 

Herbert Silva Leão 
Assistente de Direção e produção 

SERVIÇO
Espetáculo Yerma
Datas: 14 a 17 de fevereiro
Local: Teatro Martim Gonçalves
Hora: 20h
Entrada Gratuita.
FICHA TÉCNICA
Direção: Yasmin Müller
Texto: Federico García Lorca
Assistência de direção: Herbert Silva Leão
Orientação: Paulo Cunha
Produção: Laís Prado
Assistente de produção: Enoe Lopes Pontes Carol Mota; Jaqueline Pereira.
Elenco: Fernanda Crescêncio; Dado Ferreira; Enoe Lopes Pontes Rodrigo Queiroz; Sonia Leite; Helita Soarez; Eduarda Duarte, Jamile Dionísia Ferreira, Marina Lua, Michele Lima.
Direção Musical: Rafaela Moreira
Composição musical: Luciano Salvador Bahia
Musicistas: Rafaela Moreira
Cenografia: Marcello Girotti; Rafael Bittencourt
Iluminação: Felipe Viguini
Figurino: Elis Brito
Assistente de figurino e aderecista: Giovani Rufino, Luiz Paulo Fernandes
Maquiagem: Laís Abreu
Preparadora corporal:
Preparador vocal: Luciano Salvador Bahia
Comunicação visual: Laís Prado
Mídias Sociais: Enoe Lopes Pontes; Laís Prado
Assessoria de Imprensa: Enoe Lopes Pontes
Assistente de Assessoria de Imprensa: Lorena Morgana

Valor Grátis
Baseado na obra homônima de Garcia Lorca, o espetáculo Yerma tem estreia no dia 14 de fevereiro. A montagem é comandado pela cineasta e diretora teatral Yasmin Müller e possui melodias compostas pelo premiado artista Luciano Bahia
Localização  Teatro Martim Gonçalves - Canela
Rua Araújo Pinho 292. Canela
Brasil/Bahia/Salvador
40110-010

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